domingo

Nossa Senhora do Bom Remédio

8 de outubro 
Nossa Senhora do Bom Remédio

I Celebração de Nossa Senhora do Bom Remédio
“Os religiosos Trinitários, que têm como finalidade especial honrar a Trindade divina com particular culto, promover esta fundamental devoção e exercitar as obras de misericórdia para socorrer os necessitados, já desde a origem da Ordem veneraram com singular devoção a Virgem Maria, sacrário da augusta Trindade, sob o titulo de ´Bom Remédio`... Este culto especial à Mãe de Deus, que cura os males de quantos recorrem a ela com confiança, se manteve através dos séculos..., e ainda hoje está com todo seu vigor e se mantém florescente” (Ofício das Leituras). Com estas palavras de João XXIII se sintetiza admiravelmente o modo como nós Trinitários contemplamos o mistério de Maria. Ela é antes de tudo o “Sacrário da Augusta Trindade”. Com este título se indica quem foi Maria para Deus e ante Deus. A grandeza incomparável da Virgem vem de sua especialíssima relação com Deus-Trindade. 
O Pai a elegeu e a predestinou antes de todos os séculos para realizar nela a maravilha da maternidade divina. Realmente, só Maria pode dizer “...o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc. 1,49). O Filho do eterno Pai se fez filho do homem em seu seio virginal. A íntima e insuperável união de Maria com Deus, tem lugar através do Filho de Deus que é realmente seu próprio Filho. Se Maria é o Sacrário da Santíssima Trindade, é porque Deus habitou pessoalmente nela, isto aconteceu de um modo especial no mistério da encarnação: por sua maternidade divina a virgem guarda em seu seio o Verbo eterno, e, com Ele, em íntima e indissolúvel comunhão ao Pai e ao Espírito. Pelo Espírito Santo se realizou o mistério da encarnação: ele a fecundou com seu poder, a cobriu com sua sombra, ou seja, a revestiu de Deus para que Deus mesmo se fizesse nela homem. Por isso, “que toda língua te louve, Mãe de Deus, esposa do Espírito Santo e Filha amantíssima do Pai” (Ant. 1 das Laudes). O título com que a Ordem venera a Virgem de Nazaré expressa estupendamente sua relação conosco: ela é a Mãe do Bom Remédio. E quem é o remédio dos homens, senão Jesus Cristo, seu Filho? Ele é a saúde, a salvação, o remédio de todos os males que afligem o homem, e Maria é a mãe deste: “Maria deu à luz Jesus, nos trouxe o remédio e nos deu a salvação” (Ant. 2, I Vesp.). 
Mas Maria não se contentou só em dar ao mundo o Redentor que tratasse nossas feridas e curasse todas nossas enfermidades: a Virgem esteve perto de seu Filho para adiantar a hora de sua manifestação como remédio de nossas necessidades. Assim como a vemos em Caná intercedendo diante de Jesus para que desse uma solução para a falta de vinho, também a vemos ao longo de nossa historia animando e sustentando com sua maternal solicitude a obra da redenção dos cativos. Aqui não se trata de oferecer remédio a um imprevisto de pouca relevância como em Caná, e sim de interceder contra uma grande injustiça, que colocava em perigo a fé dos cativos e os conduzia à degradação de sua dignidade humana. Se Maria é a Mãe do Bom Remédio, do remédio dos homens, isto deve manifestar-se especialmente em nosso compromisso pela libertação de toda forma de escravidão (Cf. Lc 1,79). Maria nos da o que ela tem, o bom remédio, para que nós o levemos aos irmãos que carecem dele, por que sofrem em sua carne a injustiça, cuja máxima expressão é a exploração da fé em Deus, ou vivem cativos do pecado, da pobreza e da enfermidade. Ela nos dá o bom remédio conduzindo-nos para seu Filho, infundindo em nós a confiança nele, em seu amor por nós que é mais forte que a morte “fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5). E Cristo nos manda fazer o que ele mesmo fez, levar adiante sua missão libertadora “Para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18 ss). Mas já antes, a Virgem Maria, dando voz ao Filho que levava no ventre, celebrou antecipadamente esta missão de Cristo, quando no Magnificat canta as grandes obras do Senhor em favor dos pequenos e oprimidos: “agiu com a força do seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53). Maria se pôs e se põe maternalmente ao lado dos discípulos de seu Filho que passam necessidade, que sofrem perseguição e estão encarcerados, para oferecer-lhes o remédio que ela tem: a saúde, a salvação, a liberdade de seu filho Jesus Cristo. A nós cabe seguir seus passos colaborando ativamente na redenção dos homens conforme o carisma próprio: para esta missão ela veio e por isso a invocamos como Mãe do Bom Remédio.

. II Maria em nossa vocação Trinitária

Todos os Institutos Trinitários veneram a Virgem Santíssima como Mãe e Patrona, porque nós Trinitários somos e nos sentimos Igreja. E Maria é Mãe da Igreja. Neste vínculo especial que nossa família religiosa tem com a Santíssima Trindade, também olha com satisfação a Santíssima Virgem e descobre nela de um modo perfeito estreitas relações com as três Pessoas. Igualmente a Família Trinitária ao ver-se dedicada à redenção dos cativos, sabe que depois de Jesus Cristo, o Divino Redentor, ninguém como Maria tem sido remédio de quantos gemem na catividade e por isso se sente particularmente ligada à Ela que tanto fez e faz pela redenção. A Virgem do Bom Remédio, Patrona da Ordem Trinitária.Tu és nossa proteção, Tu és nosso refúgio, Tu es nosso melhor remédio, ó Maria (Ant. 3, I Vesp.). Na carta de João XXIII, que lemos nas II Leitura da festa de Nossa Senhora do Bom Remédio, se diz o seguinte: “O Capítulo Geral da Ordem da Trindade, celebrado em 1959, fazendo seus os desejos de anteriores Capítulos, pediu à Santa Sé que declarasse a Virgem do Bom Remédio Patrona da Ordem... O Papa respondeu: “Concedemos com muito gosto o que nos pedem os Trinitários, na confiança de que assim terão um motivo a mais para arder sempre no amor da Virgem Mãe, venerando-a com este título tão doce e se sentirão comprometidos a trabalhar com ímpeto em aliviar e remediar os necessitados”. E na mesma Leitura se faz um pequeno resumo da devoção Mariana que ao longo dos anos tem florescido sempre na Ordem. “Os religiosos Trinitários, que têm como fim especial honrar com peculiar culto a Santíssima Trindade e propagá-lo entre os fiéis, têm tributado desde suas origens especiais provas de veneração e de piedade à Santa Virgem, por ela ser Filha do Pai, Mãe do Filho e Esposa do Espírito Santo, Sacrário de toda a Trindade. Segundo muitos antigos documentos, as festas da Virgem eram celebradas solenemente entre os Trinitários – a mesma regra dá testemunho disso – e semanalmente, por privilégio, já desde o ano 1262, rezavam as comunidades Trinitárias o Ofócio da Virgem. Levados por este afeto para com a Santíssima Virgem muitas vezes exaltavam com seus escritos e pregações as grandezas e previlégios de Maria (especialmente o de sua Imaculada Conceição). Eram os Trinitários movidos a dar este culto especial à Virgem com as três Pessoas da Trindade, e pelo grande amor com que a virgem colaborou pela redenção do mundo, e porque freqüentemente ao realizar as redenções dos cativos, experimentaram especial ajuda da Virgem do Remédio. Tudo o que contribuiu mais e mais para que os Trinitários cada dia se distinguissem em venerar a Virgem com título do Remédio, ou do Bom Remédio, e que em sua honra erigissem confrarias, altares e imagens. E a Virgem com graças singulares deu bem a entender quanto lhe era agradável esta invocação”. Devido as habituais práticas de devoção à Virgem em todas comunidades Trinitárias, e a singular devoção de seus mais insignes filhos, se foi criando uma atmosfera Mariana em toda a Ordem. São eloqüentes as palavras que diz o instrucional de noviços: “É necessário que os noviços estejam advertidos de que um dos grandes consolos que têm nossos religiosos é o de ter por Mãe, Patrona e Advogada a Santíssima Virgem, e desde os princípios e primeiros passos na religião beber de sua afetuosa devoção e seu infinito amor, e sermos todos seus perpétuos guardiões, gastando grande parte da vida em servi-la, honrá-la e venerá-la”. (Instrucional P. 101). Desde as origens, como aparece nos livros que regiam a marcha da comunidade Trinitária, cada manhã se cantava a missa em honra à Virgem; e além do Ofício Divino Litúrgico, se rezava o Oficio Parvo (pequeno) da Virgem. Rapidamente acrescentaram o rosário, a Salve Rainha cantada nos sábados e vigílias das festividades marianas, as ladainhas durante a noite, uma especial solenidade nas festas e uma preparação especial para as mesmas festas da Virgem. A Tradição e a Historia nos transmitiram provas de particular devoção com que todos nossos santos e beatos honraram e foram honrados pela Virgem: São Felix com a lendária aparição na noite que precede a Natividade; São João de Matha com especiais intervenções em suas redenções; o Santo Reformador nos momentos de grande apuro; o inigualável devoto da Virgem São Simão de Rojas, o primeiro noviço Frei Pedro do Menino Jesus, Irmã Ângela da Conceição, etc,etc. E em nossos tempos o Bem Aventurado Domingos Iturrate do Santíssimo Sacramento e os servos de Deus Félix da Virgem e Monsenhor José Di Donna, nos dão também exemplos de singular devoção a Maria.

III Maria em nossa vida espiritual

A Virgem, desde o princípio esteve elevada a este alto estado, e nunca teve impressa em sua alma forma de humana criatura, nem por ela se moveu; sua moção foi pelo Espírito Santo (São João da Cruz). Ninguém chegou a tão excelente altura na vida espiritual, nem tem tanto interesse em proteger-nos para que também em nós se vá aperfeiçoando a vida espiritual, como a Virgem. Ela é também nisto, nosso melhor modelo e nossa Patrona. E no processo de espiritualização, como no de cristificação, esperemos a ajuda de Maria e recorramos ao seu amparo. É na encarnação, onde se apresenta para nós a íntima união de Maria com seu Filho, é evidente a intervenção do Espírito Santo. O Espírito Santo descerá sobre ti (Cf. Lc 1,35). Maria concebeu por obra e graça do Espírito Santo. E quando o Espírito Santo desceu sobre a Igreja no dia de Pentecostes, Maria ocupou um lugar especial. Seja no Mistério de Cristo, seja no Mistério da Igreja, o Espírito Santo e Maria aparecem estreitamente unidos. O primeiro aspecto oferecido à nossa meditação no Mistério de Maria é a iniciativa do Espírito Santo que predispôs a Maria com privilégios e graças singulares. A preservou de todo pecado já desde sua Imaculada Conceição, habitou em Maria como um templo santo e adornado com grandíssima graça. Os dons de Deus nascem de seu amor; não nos esqueçamos. A cena da Encarnação, seu diálogo com o anjo, sua atitude ante a Palavra de Deus, os episódios da infância de Jesus, como a visita à sua prima Santa Isabel, o Nascimento, a apresentação no templo, o cumprimento exato de quanto a lei mandava às mães, a fuga para o Egito, a vida retirada em Nazaré, a busca durante três dias pelo Filho perdido no templo, nos mostram a que grau de santidade havia chegado Maria e sua constante e firme fidelidade – a Virgo Fidelis – às inspirações e moções do Espírito Santo. E o seu Magnificat é como uma radiografia, que nos deixa maravilhados e extasiados ante as belezas da alma de Maria. Ela que é proclamada bem aventurada porque creu, por suas virtudes teologais de fé, esperança e caridade, nos mostra como é concentrada e submergida em Deus, ou seja, em uma vida teologal e divina. Alma adoradora, eucarística, humilde e pobre, totalmente unida e submissa a Deus. Mais tarde se dirá dela: Maria conservava tudo em seu coração. É que estava cheia de Deus. Nas provas e dores, com o motivo do nascimento de seu Filho, da apresentação no templo, da fuga para o Egito, da perda do Menino Jesus, nem uma queixa; conforme o querer de Deus. Assim descreve um autor a vida de Maria: “se caracterizava por uma ação transbordante de dons do Espírito Santo, com as graças e com o exercício correspondente de virtudes que estas provocam e com os dons divinos que a aperfeiçoava modelarmente ao divino. Virtudes sobretudo de fé iluminada e de caridade ardente. Sua pureza de alma, seu equilíbrio perfeito, sua entrega total fazia com que sua vida mística fosse de um esplendor maravilhoso. Sua alma divinizada viveu praticamente em um êxtase interno constante. Ainda que toda envolta na mais humana e atraente simplicidade, ao mesmo tempo” (Jimenes Duque). O Espírito Santo foi dono e senhor absoluto e quem guiou perfeitamente a alma santíssima de Maria. Sua ação na Virgem foi sempre estupenda. São João da Cruz escreve: “Tais eram as graças da gloriosíssima Virgem Maria, a qual, estando desde o principio elevada a este alto estado nunca teve impressa em sua alma forma de humana criatura, nem por ela se moveu, sua moção foi pelo Espírito Santo”. E como o Espírito Santo é chama viva de amor, tanto ardeu em Maria que sua intensidade lhe abrasou e por fim teve de consumir a capacidade limitada da vida natural de Maria. Foi este amor que rompeu o fio da teia da vida de Maria, que morreu por amor. O Espírito Santo que interveio na encarnação de Cristo há de intervir na formação de Cristo em cada um de nós. E à medida que se vá formando Cristo em nós, iremos avançando na vida espiritual. E é também Maria que em união com o Espírito Santo fará crescer esta nossa conformidade com Cristo. Quando a cristificação em nós for mais perfeita, maior intervenção de Maria iremos ver em nossa vida espiritual.

IV Trabalhemos com Maria na Redenção

Os Trinitários, atendendo as necessidades da Igreja, estão obrigados a realizar um apostolado social e caritativo para com quantos gemem cativos da atual servidão e por isso correm perigo de perder a fé (Constituições, 93). Maria é nosso modelo e nossa Patrona na obra apostólica da redenção. Portanto, tenhamos sempre presente sua influência e tratemos de nos conformar a ela; se queremos realmente ser redentores. O amor que com tanta abundância derramou em Maria a Santíssima Trindade fez dela a melhor redimida e a mais empenhada na obra da redenção. Quanto maior for em nós o amor Trinitário, mais e melhor trabalharemos pela redenção. Como São Paulo, nos veremos obrigados a repetir: O amor de Deus nos impele. E se nossa vida alcançasse a santidade, a união transformante da Trindade, então não conheceríamos debilidades, nem desvios, nem interrupções em nossa obra redentora. Foi em Maria onde o amor Trinitário, que é amor redentor, encontrou seu grau mais excelente. Que esse amor Trinitário, redentor, cresça em nós; então nos encontraremos nas melhores disposições para ser redentores. Quanto mais semelhantes formos a Maria, tanto mais trabalharemos para redimir os homens. Tudo em Maria teve começo em sua incondicional disponibilidade à vontade de Deus. Quantas almas esperam de nosso sim, de nossa fidelidade à vontade de Deus, de nossa fidelidade à vocação redentora que a Trindade nos deu, sua redenção e sua participação na vida divina trinitária! Quanto mais e melhor formarmos em nós e nos outros a Cristo, mais contribuiremos com a redenção e a trinitarização dos homens. Por isso, com Maria, totalmente possuída pela Santa Trindade, devemos adotar a postura de uma total e generosa disponibilidade para com o mesmo Deus Uno e Trino. Este consentimento sem condições será denso em admiráveis conseqüências para redimir e fazer participar da vida Trinitária a todos os homens. Tendo em conta o modo como Maria foi associada à obra da redenção, entenderemos de que modo poderemos nos associar também à essa mesma obra. Como ao Divino Redentor e como a Maria, também a nós se pedirá o sacrifício. Como Cristo deu um sim que o levou até à cruz, e Maria deu o sim que terminou no seu calvário, nosso sim terminará também em nosso sacrifício. Sem esta atitude não seremos redimidos nem aos outros iremos redimir. As intervenções de Maria para realizar a redenção em favor dos membros da Igreja nos fazem ver igualmente de quantos modos e em quantos campos podemos dedicar a aplicação da redenção. Às vezes de nós se exigirá obras. Quem puder fazer obras não se contente com sentimentos. Isso não seria amor, senão ilusão de amor. Obras são amores. Em outras ocasiões se pedirá de nós o próprio sacrifício. Esse é desde já o modo mais conforme à redenção de Cristo. Nossos Trinitários não duvidavam em sacrificar-se a si mesmos a fim de aliviar e resgatar aos que sofriam. Sempre com a oração. Jamais os Trinitários se esqueciam em suas preces dos pobres cativos: pelos – afflictis et captivis – rogavam muitas vezes. Campos espirituais e materiais que estão esperando nossa intervenção os encontraremos por conseqüência da escravidão do pecado. Como não sentir vivissimamente que tantos, em vez de ser filhos de Deus, de viver a vida divina trinitária, estejam afastados de Deus, ou seja, como dizia Pio XII, corpos que levam uma alma morta pelo pecado? Maria, Mãe da graça, Mãe de misericórdia, defende-nos do inimigo. 


Pe. João Borrego, OSST.

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